terça-feira, 17 de junho de 2008

Roda Cutia

nem todo dia decora-se a arenga
austera verborragia de poeta molenga

pois bem, entoarei cantoria indígena
ao meio-dia, nesta ermida
prosa alquebrada, toda malfeita
atroz frenesi com iguaria suspeita

imagens de arcanjos desconexos
promovem bacanais nesta capela prístina
e os ébrios comandam o ritmo
dançam e giram em um só pé
com selvageria de um só pã

anjos e demônios sibilam nas pautas
que transcrevem valsas homéricas
e a siringe causa flutuar
toda a súcia que parasita as épocas

eis que chega aquela freira cética
toda faceira em moda de buda
todos os mantras da ayurvédica
ela tira no saltério, delírio da platéia

eis que chega Grandão-Mor, convidado de luxo
é sapiente, vossa onisciência máxima
não resiste à música, e entra na dança
e toma a mão da freira, ao amor se lança

aquele ateu vizinho, mal humorado
convida a polícia fazer parte da festa
eles expulsos da Igrejinha; acabou-se a dança
desligou-se a música, apagaram-se as luzes.

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